Dúvidas persistem sobre morte de menino de 13 anos em Habib’s de SP

A família de João Victor Souza de Carvalho, menino de 13 anos que morreu em frente a uma lanchonete Habib’s na zona norte de SP, contesta laudo elaborado pelo IML (Instituto Médico Legal).

O documento aponta morte súbita, de origem cardíaca, relacionado ao uso de drogas, e o superintendente da polícia técnico-científica do IML, Ivan Miziara, diz que não há erro. A polícia paulista ainda investiga o caso.

Havia traços de cocaína e de substâncias de lança-perfume no corpo de João Victor. Amigos e familiares dele confirmam que ele era usuário.

Mas o advogado da família, Francisco Carlos da Silva, questiona: “Mesmo com substâncias em seu organismo, o menino teria morrido se não tivesse sido agredido?”

João Victor morreu no dia 26 de fevereiro após uma confusão no Habib’s. Imagens mostram duas pessoas, que a polícia suspeita serem o supervisor Guilherme Francisco do Santos, 20, e o gerente do local, Alexandre José da Silva, 32, arrastando o menino até jogá-lo desacordado na rua. Duas testemunhas afirmam que viram João Victor ser espancado.

Uma empresa de perícia contratada pelo advogado da família pede a exumação do corpo, questionando dois pontos do laudo:

1: não há, segundo o médico legista Levi Miranda, o detalhamento devido sobre como a amostra foi colhida –se foi de sangue, urina ou vísceras, por exemplo;
2: o laudo mostra que havia alimentos na árvore traqueal, o que pode significar, segundo Miranda, que o adolescente vomitou e aspirou o vômito. Uma das possibilidades de morte, portanto, é de broncoaspiração em função das alegadas agressões.

Miziara, do IML, responde que a amostra colhida foi de sangue. Ele explica que o laudo mostra um pequeno infarto anterior sofrido por João Victor, há pelo menos três meses, e um infarto ao menos seis horas antes de sua morte. Segundo ele, a presença das drogas no corpo indica que ele as vinha usando cronicamente, provocando essas lesões cardíacas.

E completa: “Ele foi submetido a um estresse violento, causando uma descarga de adrenalina. Isso pode potencializar o efeito das drogas, mas não posso afirmar que isso aconteceu. Trabalho com provas”. O corpo, segundo ele, não apresentava lesão traumática que pudesse justificar a morte.

A Folha submeteu o laudo a três peritos independentes. Nenhum se arrisca a responder se João Victor teria morrido sem as agressões. Mas dois afirmam que o menino já estava morrendo em razão de lesões no coração.

A advogada Roselle Soglio, especialista em perícias criminais, diz que o documento é “contraditório”. “Não pode ter sido morte súbita. O próprio laudo mostra que houve demora para a morte, então foi agônica [demorada].” Ela também estranha a ausência de registros de lesões externas, sendo que há imagens do menino sendo arrastado.

O laudo “surpreendentemente descreve uma criança com um coração de velho”, diz o patologista Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da USP. O estresse com os seguranças de fato “pode ter aumentado sua adrenalina”. De qualquer forma, diz ele, o menino “já estava com os dias contados”.

Para Sami El Jundi, professor de criminalística e medicina legal da Faculdade de Direito da UFRGS (Universidade Federal do RS), “os achados são coerentes entre si”. “Se ele foi agredido, foi quando já estaria morrendo”, diz.

“Quanto à agressão, o fato de não terem sido observadas lesões não significa que não tenham ocorrido. Algumas lesões podem ser graves e não deixar maiores marcas.”

Em comunicado, o Habib’s ressalta que o adolescente foi “resgatado com vida” e sem sinais de agressão. “A empresa esclarece que os envolvidos continuarão afastados e que, após apurações finais, tomará medidas cabíveis.”

Dúvidas persistem sobre morte de menino de 13 anos em Habib's de SP

Família do menino João Victor, morto em frente ao Habib’s da Vila Nova Cachoeirinha, protesta em frente à loja

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